31 dezembro 2010

MMXI

Por fim, 2010, o ano do calendario gregoriano, que será por mim lembrado como o pior sempre. Como diria o sábio Homer Simpson: "existe sempre o conforto de poder haver um ainda pior". Ou ainda lembrar a Lei de Murphy: "não há nada tão mau, que não possa ser pior".
Comecemos pelo inicio, o desemprego ou ainda empregadores proxenetas como uma das causas primordiais desta condição, a cura ou desintoxicação da heroina pela substituição pela metadona, mudança de casa e vizinhos que no 1º debate conjugal decidem chamar a atenção para menores em perigo, e consequente ações institucionais arrastadas até á exaustão familiar, uma primavera parva, um verão quente, um outono chuvoso e frio, e outro inverno da vida. O alcoolismo genetico e a tendencia para abusos dos consumos de tabaco, café e estupidez da companheira asmática, que resultaram já em dezembro numa pneumonia, e consequente internamento. As tentativas de re-emigrar logradas, mas não findas. A perda do controle da própria vida, pela dependencia de terceiros, e quartos.
Pois bem mas nem tudo foi mau, a libertação fisica da heroina e metadona e por tal o fim da exposição e contacto com outros caroxos, e o fim da minha relação institucional com o IDT, CAT ou CRI ( SS, PSP, IEFP, IRS, FBI, UFC...). As vitórias judiciais consecutivas no processo kafkiano de desagregação do nucleo familiar. O ódio ao alcool, e a tudo o que possa mudar-me o humor, como por exemplo: as ganzas de haxe ou erva, gasosas de branca, e risquinhos da mesma, o evitar os psicadélicos por medo da verdade em mim.

Este blog viaja entre o intimo e pessoal, e o generalismo de uma visão social. Por isso mesmo, pelo apoio, comentários, seguidores, amigos e ilustres anónimos, o mudar de ano será também o virar de página no que será redigido no EXCAROXO.TK. Será também e sobretudo um espaço de reflexão pessoal e ensaios literários, mas sem nunca perder o que me fez iniciar-lo: a perda de um caderno diário na rua, logo para não voltar a acontecer o melhor será por os escritos online, deste modo também estimular-me a continuar a escrever, e perspectivar de modo sui generis a vida.
Dizer a outros que via google ou de qualquer outra forma cheguem até aqui, de que é possivel largar o cavalo se assim entenderem, é possivel, mas duro.
Por fim a tentativa de chegar a grandes publicos, e assim atingir a imortalidade através da obra.
Tenham um ano de ambições realizadas, bom 2011.

29 dezembro 2010

Mais uma ressaca

ex gringos familia
a descida á terra, via desilusão, nunca é facil. Compreendo agora, sempre tarde, de que só encontro o sentimento que permitiu a minha relação conjugal, lá no alto da consciencia sob a influencia da heroina. Com crack fumada, cuja qual ja não me permito, atinjo conversações emocionalmente muito elevadas, independentemente do interlocutor. Com a heroina, o relaxamento mental, permite-me o dialogo lucido e esclarecido.
Concerteza que o que é despoletado em mim, através da quimica e da biologia, já em mim existe, mas sublimado. Não será nada que existe nessas 2 drogas embrulhadas em saquinhos de plastico, que por si só, fale. Mas a forma como o organismo humano, e as suas bioquimicas agem em contacto, com os psicotropicos em questão.
E tal como na alegoria da caverna, eu já vi para além da minha sombra, quero dizer com isto é que sei como em mim viajar sem sair do mesmo sitio, despertar a consciencia para um nivel diferente do terreno, mesmo que seja a caminho do inferno. Daí achar que posso desculpar eventuais deslizes ou viagens, para as quais não há desculpa. E já dizia o buda numa das suas 4 verdades; de que o sofrimento existe. Mas também existem os analgésicos.

Depois da não desagregação familiar via judicial, institucional e outros, vem a implosão do nucleo familiar. Por variadas razões, cujas as quais não citarei, por respeito á sua des integridade.

10 dias sem ingerir opiaceos, seguidos de uma semana em que fumei quase diariamente.
As viagens sempre sonanbulas, até ao dealer. Ou á distancia de um telefonema a quem por alguma razao, decidiu que vender cavalo era (e é) um bom negocio.

Neste dia 29, da ressaca, apenas reminiscencias, quero passar o ano limpo, para variar.

26 dezembro 2010

Natal e ano novo

Aquele periodo estupido entre o natal e o ano novo, acontece depois da fantasia infantil, sublimada em lendas dispostas para que se acomodemos numa disposição pontual de altruísmo, e olhar á podridão da vida sem mérito, fé, ou virtuosidade. Oferecidas as prendas, recebidos os presentes, confraternizada a familia e amigos, voltamos á terra onde a magia natalicia se esvai como um nevoeiro matinal por entre os raios de sol; os sem abrigo deixam de ser noticias, as empresas param com a utilização do natal desdobradas em tecnicas de marketing, tais como doações, promoções, liquidações, descontos e prémios, de modo a parecer que se interessam por outras coisas que não sejam o lucro, as instituições de apoio social, mostram-se pintadas de rosa e azul celeste apesar do aumento da procura aos serviços prestados, devido á degradação do nível de qualidade de vida do português, e destas mesmas nas suas dificuldades financeiras, apesar da mobilização para a consciência social, e sensibilização das empresas para o bom uso dos já referidos lucros, cujos excedentes serão parcialmente doados, via consumo extra de seus produtos.
As questões do ano novo são simples: basicamente, renovar a esperança de dias melhores, conotados com uma nova fase temporal.
O resto tem a ver com onde, como e com quem passar os últimos instantes de mais uma volta ao sol. A celebração em si não passa de mais um cliché, para justificar certos comportamentos e cuja amplitude da memória mais recente, amplifica ou retrai consoante o que se deseja para nós e para os nossos, as expectativas logradas não o tornem a ser. Passa o ano, passa o êxtase.
Na TV os responsáveis políticos, repetem os discursos de natal substituindo generosidade por esperança. Alienados que estão dos efeitos das próprias ideias e práticas politicas, disfarçados de sentido de estado, a tentar colar os cacos da integridade humana pela austeridade. Nada de novo, portanto, senão datas que se celebram quase em conjunto mas por ordem consecutiva, desta feita colado ao fim de semana, num sitio onde a produtividade é um deficit, e a cultura de mérito laboral é trocada pela cunha. Emigram os melhores, portanto ou por tão pouco, restando assim as ovelhas que se deslocam ás urnas cantando o fado da própria sina.
O natal já passou, a redescoberta do seu significado foi feito: a alegria das crianças em dádivas múltiplas sem causa aparente, a minha porque não compreende o calendário ou as horas, duvida do pai natal e ainda não tem fé cristólica.
Este periodo entre o natal e ano novo, é aquele imediatamente antes do desespero de janeiro. O melhor remédio será então não entrar em euforias mesmo que a época seja propicia, para depois não entrar em depressão. Para pessimismo, já chega ver os noticiários e as opiniões jornalisticas, das agências de rating, os debates idioticos da campanha presidencial, e para quem não tem TV por cabo, os filmes repetidos tipo "sozinho em casa", e o finais de reality shows, em galas babadas de importancia vital.
Por isso, e melhor que um ano novo, é mesmo um novo ano.

21 dezembro 2010

JingóBéle

É quase natal.
Este natal, já como de costume em casas por mim habitadas, não se monta a arvore de natal, nem luzinhas, nem nada que se pareça.
Como pai, não sei como explicar, quem é o pai natal ou o menino jesus, e o que é que isso tem haver com o consumismo desenfreado, pelo subsidio de natal, ou mesmo o espirito natalicio. Por tal, ou por falta do mesmo, não haverá prendas que passa o ano a receber, como livros infantis, puzzles, jogos e brinquedos lúdicos próprios para a sua idade.
A vespera de natal, será como tradição, passada entre a casa de meu pai, mãe e sogra, que não prescindem de celebrar a familia, apesar de desagregada, continua unida por sentimentos fraternais enaltecidos pela epoca. É triste passar essas horas sozinho, isso sim. Mas eu estou-ma cagar pó natal, e para tudo o que as agencias de marketing achem que nós devamos sentir.
Não tenho dinheiro, não tenho trabalho. Livrei-me da heroina, da metadona, os unicos vicios que tenho são o tabaco, café, e roer as unhas. A esperança de dias melhores é facil, pelos dias que mais dificeis, é dificil. Chove muito, está muito frio, os amigos estão longe, a familia está farta. O sorriso aparece, só e apenas, em brincadeiras e convivio com a cria em convalescença, para que a sua inocencia e pureza não seja (mais) corrompida pela crueza da vida, que se quer ilusória como nos filmes da Disney.
Évora, 2010. Provavelmente o pior ano da minha vivida vida.
O pai natal não existe, e o jesus morreu e foi para o céu, ouvi dizer. O calendário gregoriano, é muito presunçoso, para as nossas necessidades sociais. O ideal seriam dias com 36 horas, e meses com 17 dias no máximo. Enquanto o RSI não chega, e o fazemos render em actividades ilicitas de economia paralela, aguardamos a ouvir a chuva soar nas folhas da planta á porta de casa.

19 dezembro 2010

Justa Injustiça

Das memórias mais primitivas dos textos nos livros escolares, retive um, quiçá da 2ª classe, e cujo titulo era "Justa injustiça". O texto tratava de 2 alunos que tendo que fazer um teste, na obstante de um ter copiado integralmente o trabalho do outro, e de serem virtualmente idênticos os trabalhos, um dos alunos foi avaliado com 18, e o outro com 14 valores, daí o nome justa injustiça.
Porquê esta memória? Por achar que naquilo a que chamamos justiça, não passar de pressupostos políticos.
O conjunto de leis pelo qual nos gerimos, são uma obstrução á vida virtuosa, e os valores primordiais como liberdade, inteligencia, potencial e felicidade, são apenas adjectivos subjectivos, numa sociedade que se quer submissa, ignorante e dependente do poder politico. Valores são para as ovelhas, como o pastor para a cultura geral.
Quanto mais aprendo, e apreendo através do empirismo, mais preso a uma condição social me sinto. Já nem falo na condição humana que com tanto tempo para aprender, a humanidade desaprende a viver livre e com aspirações á felicidade.
Que valores passar á minha cria? Como lhe dizer que o mundo que a rodeia é injusto? A resposta passará por lhe dar as ferramentas necessárias, para que ela possa por si, abrir caminho á sua própria felicidade e realização pessoal, como fim.
Para ser materialmente rico, é necessário ser egoista e avaro. Para ser culturalmente rico, é preciso agir como uma ovelha.
Eu hoje e sempre ovelha negra...

15 dezembro 2010

A QUEDA E ASCENÇÃO

Tal como o livro homónimo - A Queda, de Albert Camus; o juizo como profissão tem como principal objectivo a subjectividade de evidencias e como consequencia a penitencia de terceiros.
Sinto-me há demasiado em queda interior, no meu nicho familiar, e a nivel social. As unicas bolhas de ar, são as vãs esperanças de arranjar trabalho, algumas conversas de efeito retroactivo e catarsicas, e as utópicas mudanças de rumo.
Os sintomas de ressaca são basicamente nulos, mas acaba por ser escalar uma montanha com determinação, dor e coragem para alcançar o cume, gozar a paisagem, para logo de seguida vir uma avalanche celestial que nos arrasta para o ponto de onde tudo começou, ou crescer uma outra montanha, privando-nos do gozo de tal paisagem. Não sei como tudo isto começou, nem vislumbro como tudo irá findar, se findar.
Lembro-me, neste processo sinusoidal do 1º livro que li de Camus, "O mito de Sísifo" que trata de como Sisifo, desafiando os deuses penitentes, rolando continuamente uma rocha esferica para o topo de um monte, e que quando chegado ao cume, a pedra volta a rolar para a base, dando assim inicio a todo o infindável castigo: por alguma razão os deuses, tal como eu, acharam que não havia pior castigo do que o trabalho inconsequente.
O vórtice descendente, quebra-me o animo. E cada vitória como neste caso da desintoxicação, primeiro da metadona, depois da heroina, acresce-se um outro qualquer obstáculo, que me impede de celebrar.
Ontem na euforia de conseguir o trabalhinho perfeito, pelo qual ainda aguardo um telefonema, cujos requisitos seriam conhecimentos de inglês e francês, ter mais de 30 anos, ser do género masculino, e alguma experiencia prévia; ou seja a minha cara.. Pus-me nas 2h anteriores á entrevista, a estudar na Biblioteca Publica, minha vizinha, livros de conversação, de verbos, e dicionarios da lingua francesa, pois que na marcação da entrevista descobri que a senhora que gentilmente me atendeu era de nacionalidade francesa e mãe do entrevistador, para depois chegar á entrevista e nem uma palavra dessa lingua que se encontrava enferrujadissima na minha mente..enfim..

14 dezembro 2010

Outra vez a Metadona

http://gratisblogs.net/cigarro/2010/02/22/por-que-voce-deve-evitar-metadona-toxicodependencia/#comment-192

Mais um sitio onde se descreve, o efeito perigoso do presumivel tratamento com Metadona.

Évora, Praça do Giraldo 12h30. Sol, como há muito não sentia no rosto palido de doente, convalescente que não sente vontade, de cruzar com a gente, que não sabe como sente.
O cheiro da roupa aquecida rapidamente.
A ansiedade esvai-se em palavras tecladas, sentado num banco desejado por quem passa cansado.
O super heroi que encarno, sacode a vergonha, por mais uma etapa abstinente, humilde e contente.

Marés

No mesmo dia em que se planeia o ano novo cheio de droga, compra e revenda, memorias de mokas conjuntas e outros caroxos, ressaco como um cão. Só de ouvir falar, me arrepia a pele, e aviva a memória do perverso efeito da Heroina em mim.
Não posso fumar, e recair no ciclo idiota de uma moka que nunca enche a barriga, e o fumo nos pulmões e pelo sangue até ao cérebro, no prazer inerente da quimica humana em contacto com os psicotrópicos opiaceos, em vez desta ressaca que se eterniza na pele, pelas horas que não passam, o mau estar fisico, e debilidade psicológica.
Os sintomas da ressaca são como as marés, vão, vêm, voltam e revoltam.
O pico da doença já passou, assim como a vontade de voltar ao mesmo, gastar o pouco de dinheiro das prendas já antecipadas do Natal, senão em bens realmente essenciais, como comida, higiene, e conforto.
Vou tomar um indutor de sono "halcion" de modo a acordar de madrugada, levar a petiz ao infantário, e ir á entrevista de trabalho, sem andar demasiado drunfado com "xanax", cujo qual ajuda a dormir e relaxar, mas nem por isso a sair da cama com a energia própria de alguém normal com vontade e paixões.
Por mim, pelos meus(minhas), por ti, por quem quiser!
Para acabar, e como dizia o meu amigo Nietzsche: "tudo o que é feito por amor, é sempre para além do bem e do mal"

13 dezembro 2010

FILOLOGIA OPIACEA

Não é á toa que se chama Heroina, pelo que li foi lhe dado o nome porque tornava os soldados alemães que a tomavam ainda na 1ª guerra mundial, invenciveis. Mas a Heroina no caso que quero agora tratar, dá me as forças suficientes, para vencer a depressão nervosa no qual me encontro: por exemplo ir ter com familiares ou cuidar de pequena e fazer parte das brincadeiras e jogos no qual somos, em casa, constantemente solicitados.
Já não havia tocado na Heroina, há alguns meses, e depois de uma proposta para ir passear ao El Nevero, em Badajoz, deu-se o incio á derrocada, e consequente escorregadela para o gosto e prazer que a puta traz. De inicio e já com alguns dias após a libertação da Metadona, em que a ressaca orgulhosamente descrevi online, pus-me a fumar cavalo de 2 em 2 dias mais ou menos na ultima semana, daí também a vergonha de continuar o blog. Ressaco umas 30 horas muito ao de leve, contas pagas, uma discussão conjugal mais idiota a juntar a uma nota de 10 euros no bolso, e la vai o gringo á da simpatica cigana, que me avia sempre bem.
Neste momento 4h44m da manha, ja passaram mais de 50 horas a pensar seriamente, na doença omnipresente, o mau estar generalizado a nivel fisico e a fragilidade mental para resistir a ir apanhar mais uma moka de Heroina, nao é á toa que se chama heroina, penso eu, pois para a vencer tem de se ser Super-Heroi, sobretudo com responsabilidades familiares e sociais, o não poder passar os dias na cama, onde so apetece estar nestes dias, em que as horas nao passam sem pensar no que fazer para reverter a situação.
Dado que o nivel de Heroina no sangue foi minimo, a ressaca do mesmo não tem sido insuportavel com ja antes foi com espasmos musculares, parecidos aos do epiletricos, enxaquecas brutais e dores no corpo generalizadas, ao ponto de bater com os punhos na parede, para eludir o cerebro dos que nos está a acontecer, não esta ressaca tem sido suportavel, nao durmo muito e sempre faseado e leve senao quando tomo indutores de sono, com relaxantes musculares, o dia passa a ver TV ou outras merdas no computador sagradamente guardadas num disco rigido.
O apoio da unica pessoa com o qual posso contar, e cuja paciencia tambem se esgota, pois que as ressacas consecutivas das tentativas frustadas de desintoxicaçao dos opiaceos, dos amigos apenas os mais próximos cujo contacto evito, por vergonha, e para continuar a passar a imagem de pessoa forte, alegre e criativa que do qual só resta uma sombra.
Dos meus pais, o omitir uma situaçao que lhes seria devastante, mas para breve a bomba da minha, espero excaroxisse.
Nestes tempos de pressão caroxa tenho pensado na filologia dos termos Heroina, e Metadona, á qual já dei a minha observação, mas em relação ao segundo pode ser MetaMandona pelo caracter omisso da droga medicamente aceite como tratamento, mas que nao passa de um embuste a nivel de dependencia que é maior, não dá moka, a ressaca é pior, mas tem a vantagem de ser de graça, e evitar situacoes extremas como crime e prostituição por doses de Heroina.
São 5h da matina, tenho de levar a petiz ao infantario dentro de 2h, e se calhar só por isso nao consigo dormir, por ela, por vergonha  de que um dia lhe terei de dizer que ja passei por isso caroxisse, pelos meus amigos que ainda prezo como tal, e desses os poucos  que tem acompanhado o blog as minhas desculpas sinceras por mais uma desilusão.. Não é facil viver "just upon a smile".
Neste momento a ressaca não existe em mim, por exorcitar o que será publico de manha no EXCAROXO, ou porque o tempo passa e com ela a ressaca incapacitante de me fazer á vida com força, por experiencia própria creio que mais 1 dia bem ressacado e uma noite mal dormida e os aspectos fisicos da ressaca de Heroina findaram, mas depois vem a vida de novo a tentar fazer escorregar, digo eu.
Já dizia o Nietzsche: "quem atinge o seu objectivo, ultrapassa-se por isso mesmo". Vamos lá então!!

08 dezembro 2010

Familia Crónica de 4 dezembro

Nunca ninguém deveria sentir assim, encurralado numa relação de odio e des ilusão, em que a unica coisa que se aproveita, é a criatura que nasceu porque, alguém deve ter vomitado a pilula por excesso de cavalo.
A esperança, morre. As ideias fluem, como esta de descrever um estado depressivo, ou como ontem á noite em que só consegui adormecer quando passei para papel que pautei, uma ideia de um electro based funk.
Sempre vivi de paixões que se sobrepunham umas a outras, que me impeliam a ser mais do que o sorriso que mostrava, hoje só uma sombra.. porquê? Muitas vezes derrapei, como da outra vez que fui parar a Amesterdam com 20 euros no bolso e viajei de volta 17 dias depois do ponto inicial desse empreendimento, mas recuperei, pus-me de pé, e outra vez.
Da relação triangular onde coabito com S. minha (ex) companheira, e minha pequena mas robusta e instintiva filha L., sobro eu, cuja força interior é vazada ao mesmo tempo que S. o faz com vinho tinto diariamente, de L. cuja pressão deve sentir pela falta de entendimento parental, a confundem.
A 1ª vez que agi fisicamente a S., foi quando já grávida de alguns meses quis fumar crack, não o consenti, assim como não consinto que L. seja criada apenas por S., por isso vou ficando, por perto, a drenar, como se por dentro morresse.
Já em Amsterdam, com 7 meses de gravidez S., não cessou de procurar cavalo e depois de algumas banhadas de rua, lá encontra-mos um dealer, de seu cognome Jackson, um dos figurinhas daquela fabulosa urbe. Consenti o fumo, pela pressão gerada pela posição delicadissima em nos encontravamos, sem lar condigno para parir, apesar de termos quarto disponivel num squad, onde a madrinha oficial de L., minha querida P. (as minhas desculpas) habitava mas sem poder ofecerer mais do que pode.
15 dias antes de parir, S. por não haver heroina disponivel na vila onde acabamos por ir habitar o sotão com meu irmão, andei a cozer Kratom, comprado na Smartshop da zona, ao ponto de ela ser transformada em pasta onde depois de seca experimentariamos fumar na prata, o que obviamente não deu mais do que nauseas e a vontade de não voltar a repetir o feito.
2 meses depois, parir e de mudarmos para uma casa nova na cidade mais próxima Roermond, S. e eu finalmente e após algumas banhadas, lá conseguimos comprar cavalo e do bom. Mais ou menos pela mesma altura eu e J. meu mano trabalhavamos e ficou decidido que S. ficaria em casa a criar L., sem mais grandes preocupações que não fossem documentos necessários, e que com o 1º ordenado de ambos se compraria 3g de cocaina que depois de feita daria para fazermos uma festa já merecida, e assim foi. Uma noite bem passada com o dealer, um nigeriano radicado na holanda e cujos contactos em Maastricht eram de 1ª ordem, o grau de pureza da coca era brutal como muito poucas vezes apanhei, ensinamos a fumar pelo cachibo de artesanal de agua ao contrário do que por lá se faz, em cachibos simples de metal, e que depois de experimentar já nessa noite não voltou a tocar.. no total foram 6g de coca boa bem feita e bem merecida.
O bicho de S. pela heroina era visceral, e em poucos meses já tinha o dealer principal da cidade A. a dar-lhe a provar quase diariamente heroina vinda de Rotterdam, enquanto eu trabalhava. Por conversas repetidas de retroactividade da memória conjunta neste ponto não há discução em relação ao reatar do consumo diário de cavalo de S. e do meu por consequencia, a diferença era a noção de perigosidade de dependencia fisica e psiquica, que S. por burrice ou outro semelhante adjectivo, continuou; solidão afirmava.. numa casa de luxo, numa localização prevelligiada, sem compromissos que não, criar um bébé facil e saudavel e a lida do lar, contas pagas.. e mesmo assim não chegou.
Depressa o cavalo era catalizador de emoções e energia em casa, até ao ponto de não retorno, a sua abstinencia na pele.
Hoje em dia, eu abandonei o estupido programa de droga de substituição pela metadona, por amor própio e resignação, ela no programa lento de redução e resignação ao sistema.
A vida não ajuda, a politica, a economia, o ausentar-me socialmente de familia e amigos a quem evito recorrer favores, deixam-me num sentimento de abandono ao qual apenas L. me mantem colado á Vida, a incessante procura de paixões ou de uma só que fosse neste caso, o blog excaroxo cujas quase 2000 visitas em 15 dias, me deixam orgulhoso e de que ainda i´ve got the touch to touch, e não desistir.
Penso em percorrer, algumas zonas do país onde tenho familia, em especial margem sul do tejo, para me poder afastar do vortice familiar, das calunias da ex alcoolica da minha sogra T., fazem de S. uma marioneta, contra o que ela prória não conseguiu ter, uma familia decente que também fodeu em tempos, e fugir um pouco á rotina de ver S. a argumentar discursos de alguém mentecapto e que não passa de uma amostra da pessoa que um dia julguei amar, mas também a L. a quem o medo de a deixar á sorte destas 2 criaturas, placebos de si mesmas e cujo cunho em mim tem sido um fardo mais qo que uma força emergente para tentar um estado normal das coisas.
São 6h da manha e fui acordado ás 4h30m, mais uma vez pelo bafío a e pelo ronco ensurdecedor de alguém que com uma doença crónica como a asma, fuma mais cigarros, do que alguém são, deveria. Vim adormecer com ajuda de Xanax para um anexo por mim reabilitado, junto ao jardim centenário, na casa onde ainda habitamos com familia: eu, S. e L.
Enquanto escrevo esta crónica, lacrimejo por Amor esse sim puro por L., por ela me curarei, e voltarei para mais e melhor. O dia amanhece e o efeito da dor suprimida pelo xanax anoitecem-me.

03 dezembro 2010

Caroxo Pessoa

O OPIÁRIO - ÁLVARO DE CAMPOS

É antes do ópio que a minh'alma é doente.
Sentir a vida convalesce e estiola
E eu vou buscar ao ópio que consola
Um Oriente ao oriente do Oriente.


Esta vida de bordo há-de matar-me.
São dias só de febre na cabeça
E, por mais que procure até que adoeça,
Já não encontro a mola pra adaptar-me.

Em paradoxo e incompetência astral
Eu vivo a vincos de ouro a minha vida,
Onda onde o pundonor é uma descida
E os próprios gozos gânglios do meu mal.

É por um mecanismo de desastres,
Uma engrenagem com volantes falsos,
Que passo entre visões de cadafalsos
Num jardim onde há flores no ar, sem hastes.

Vou cambaleando através do lavor
Duma vida-interior de renda e laca.
Tenho a impressão de ter em casa a faca
Com que foi degolado o Precursor.

Ando expiando um crime numa mala,
Que um avô meu cometeu por requinte.
Tenho os nervos na forca, vinte a vinte,
E caí no ópio como numa vala.

Ao toque adormecido da morfina
Perco-me em transparências latejantes
E numa noite cheia de brilhantes,
Ergue-se a lua como a minha Sina.

Eu, que fui sempre um mau estudante, agora
Não faço mais que ver o navio ir
Pelo canal de Suez a conduzir
A minha vida, cânfora na aurora.

Perdi os dias que já aproveitara.
Trabalhei para ter só o cansaço
Que é hoje em mim uma espécie de braço
Que ao meu pescoço me sufoca e ampara.

Gostava de ter poemas e novelas
Publicados por Plon e no Mercure,
Mas é impossível que esta vida dure.
Se nesta viagem nem houve procelas!

A vida a bordo é uma coisa triste,
Embora a gente se divirta às vezes.
Falo com alemães, suecos e ingleses
E a minha mágoa de viver persiste.

Eu acho que não vale a pena ter
Ido ao Oriente e visto a índia e a China.
A terra é semelhante e pequenina
E há só uma maneira de viver.

Por isso eu tomo ópio. É um remédio
Sou um convalescente do Momento.
Moro no rés-do-chão do pensamento
E ver passar a Vida faz-me tédio.

Fumo. Canso. Ah uma terra aonde, enfim,
Muito a leste não fosse o oeste já!
Pra que fui visitar a Índia que há
Se não há Índia senão a alma em mim?

Sou desgraçado por meu morgadio.
Os ciganos roubaram minha Sorte.
Talvez nem mesmo encontre ao pé da morte
Um lugar que me abrigue do meu frio.

Eu fingi que estudei engenharia.
Vivi na Escócia. Visitei a Irlanda.
Meu coração é uma avòzinha que anda
Pedindo esmola às portas da Alegria.

Não chegues a Port-Said, navio de ferro!
Volta à direita, nem eu sei para onde.
Passo os dias no smokink-room com o conde -
Um escroc francês, conde de fim de enterro.

Volto à Europa descontente, e em sortes
De vir a ser um poeta sonambólico.
Eu sou monárquico mas não católico
E gostava de ser as coisas fortes.

Gostava de ter crenças e dinheiro,
Ser vária gente insípida que vi.
Hoje, afinal, não sou senão, aqui,
Num navio qualquer um passageiro.

Não tenho personalidade alguma.
É mais notado que eu esse criado
De bordo que tem um belo modo alçado
De laird escocês há dias em jejum.

Não posso estar em parte alguma.
A minha Pátria é onde não estou.
Sou doente e fraco. O comissário de bordo é velhaco.
Viu-me co'a sueca...e o resto ele adivinha.

Um dia faço escândalo cá a bordo,
Só para dar que falar de mim aos mais.
Não posso com a vida, e acho fatais
As iras com que às vezes me debordo.

Levo o dia a fumar, a beber coisas,
Drogas americanas que entontecem,

E eu já tão bêbado sem nada! Dessem
Melhor cérebro aos meus nervos como rosas.


Escrevo estas linhas. Parece impossível
Que mesmo ao ter talento eu mal o sinta!
O facto é que esta vida é uma quinta
Onde se aborrece uma alma sensível.

Os ingleses são feitos pra existir.
Não há gente como esta pra estar feita
Com a Tranquilidade. A gente deita
Um vintém e sai um deles a sorrir.

Pertenço a um género de portugueses
Que depois de estar a Índia descoberta
Ficaram sem trabalho. A morte é certa.
Tenho pensado nisto muitas vezes.

Leve o diabo a vida e a gente tê-la!
Nem leio o livro à minha cabeceira.
Enoja-me o Oriente. É uma esteira
Que a gente enrola e deixa de ser bela.

Caio no ópio por força. Lá querer
Que eu leve a limpo uma vida destas
Não se pode exigir. Almas honestas
Com horas pra dormir e pra comer.

Que um raio as parta! E isto afinal é inveja.
Porque estes nervos são a minha morte.
Não haver um navio que me transporte
Para onde eu nada queira que o não veja!

Ora! Eu cansava-me o mesmo modo.
Qu'ria outro ópio mais forte pra ir de ali
Para sonhos que dessem cabo de mim
E pregassem comigo nalgum lodo.

Febre! Se isto que tenho não é febre,
Não sei como é que se tem febre e sente.
O fato essencial é que estou doente.
Está corrida, amigos, esta lebre.

Veio a noite. Tocou já a primeira
Corneta, pra vestir para o jantar.
Vida social por cima! Isso! E marchar
Até que a gente saia pla coleira!

Porque isto acaba mal e há-de haver
(Olá!) sangue e um revólver lá pró fim
Deste desassossego que há em mim
E não há forma de se resolver.

E quem me olhar, há-de-me achar banal,
A mim e à minha vida... Ora! um rapaz...
O meu próprio monóculo me faz
Pertencer a um tipo universal.

Ah quanta alma viverá, que ande metida
Assim como eu na Linha, e como eu mística!
Quantos sob a casaca característica
Não terão como eu o horror à vida?

Se ao menos eu por fora fosse tão
Interessante como sou por dentro!
Vou no Maelstrom, cada vez mais pró centro.
Não fazer nada é a minha perdição.

Um inútil. Mas é tão justo sê-lo!
Pudesse a gente desprezar os outros
E, ainda que co'os cotovelos rotos,
Ser herói, doido, amaldiçoado ou belo!

Tenho vontade de levar as mãos
À boca e morder nelas fundo e a mal.
Era uma ocupação original
E distraía os outros, os tais sãos.

O absurdo, como uma flor da tal Índia
Que não vim encontrar na Índia, nasce
No meu cérebro farto de cansar-se.
A minha vida mude-a Deus ou finde-a ...

Deixe-me estar aqui, nesta cadeira,
Até virem meter-me no caixão.
Nasci pra mandarim de condição,
Mas falta-me o sossego, o chá e a esteira.

Ah que bom que era ir daqui de caída
Pra cova por um alçapão de estouro!

A vida sabe-me a tabaco louro.
Nunca fiz mais do que fumar a vida.

E afinal o que quero é fé, é calma,
E não ter estas sensações confusas.
Deus que acabe com isto!Abra as eclusas
E basta de comédias na minh'alma!

(No Canal de Suez, a bordo)

01 dezembro 2010

Pessoa e Nietzsche

São a par de outros os meus autores favoritos, pelo que pensaram, escreveram, por serem mais altos que os homens. As citações que se seguem, foram escolhidas de propósito para este blog, por incitarem á força, e ao ultrapassar-se a si mesmo como individuo. Também descobri, algumas semelhanças entre os dois, por entre as suas bibliotecas, leituras e estudos, assim como no ano em que nasceu Pessoa, Nietzsche editou 4 livros!
Friedrich Nietzsche

Se se quer ser alguém, deve venerar a própria sombra.
Aquilo que é feito por amor, é sempre para além do bem e do mal.
Se se tem caractér, tem-se também uma experiencia tipica própria , que    sempre se retorna.
Quando adestramos a nossa consciencia, ela beija-nos ao mesmo tempo que nos morde.
Sobre a educação. Paulatinamente, esclareceu-se para mim, a mais comum deficiencia de nosso tipo de formação e  educação:   ninguém aprende, ninguém aspira, ninguém ensina a suportar a solidão.
São de rejeitar todos os elogios: fazer só o que nos é util ou o que nos dá prazer; ou o que somos obrigados a fazer.
Erros de grandes homens.. são mais fecundos que verdades de pequenos.
Só se pode alcançar um grande exito quando nos mantemos fieis a nós prórios.
Não há factos, apenas interpretações.
Não é a força mas a constancia dos bons resultados que conduz os homens á felicidade.
O que é que te torna heróico? Ir ao mesmo tempo para além da sua maior dor e da sua maior esperança.
As vivencias terriveis fazem-nos pensar se o seu protagonista, não é ele próprio, algo de terrivel.
O homem precisa daquilo que em si há de pior se pretende alcançar o que nele existe de melhor.

Fernando Pessoa

A unica maneira de teres sensações novas é construires-te uma nova alma.
Definir o belo é não o compreender.
Gostava de estar no campo para poder gostar de estar na cidade.
Ser compreendido é prostituir-se.
Narrar é criar pois viver é apenas ser vivido.
Somos avatares da estupidez passada.
Querer não é poder. Quem pôde, quis antes de poder só depois de poder. Quem quer nunca há-de poder, porque se perde em querer.
Todo o prazer é um vicio, porque buscar prazer é o que todos fazem na vida, e o unico vicio negro é fazer o que toda a gente faz.
Odiamos o que quase somos.