24 dezembro 2015

Já não há papel

O natal chegou. Como que uma primeira parte de algo que nunca mais chegava. Metade das boas festas desejadas durante o último mês a todos com quem palavras cruzava.
O natal é uma festa tanto pagã, quanto pueril. A celebração generalizada, que às crianças pertence, por indução social. Eu como pai, desconstruí toda a fabulação desde bebé.
O oferecer prendas é mais um pretexto para viver comercial, seduzido por campanhas de marketing corporativo. Tal como as feiras populares sazonais, o natal serve os interesses de quem necessita de sair da rotina, além da celebração dos aniversários, para juntar a família e amigos. Já outros que tais são baptizados, casamentos e funerais, para o mesmo propósito servem.
Em suma o natal serve para lembrar a solidão inerente à condição social, independentemente de qual seja, lembramos os sem-abrigos, os hospitalizados, a família distante e que não temos idade para receber prendas, e as expectativas de um ano menos bom que está a chegar ao fim,   mas essas considerações ficarão para outro post..
Esta época serve também para rever os amigos e conhecidos, que longe estudam ou laboram. E eu, de castigo pelo comportamento errante e afinidade com a heroina, tenho de gramar a metadona.

Orgulho ortográfico

Aquando do feedback, de quem comigo percorre a narrativa do ExCaroxo, ouço sempre as mesmas duas coisas que está bem escrito, Mas e existe sempre um Mas, que tem muitos erros ortográficos. (Grrr..)
Ensinei a minha filha a ler aos 3 anos as primeiras letras, aos 4 a escreve-las aos 5  conjuga-las, com orgulho vaidoso de papá babado, do real valor de saber expressar bem as ideias por palavras bem escritas. Por tal parece me mui mal quando identificam erros ortográficos; poderei culpar o corretor do software do computador, instrumento o qual uso para expor me do pesadelo da tóxicodependência, numa fábula de aventuras no reino do Nestum, igualmente acusar vos a vós leitores, de não reconhecer alguma criatividade ou liberdade daquela que os poetas possuem para ajustar a métrica dos versículos, no meu caso dos quilates prósicos ensaiados num qualquer universo paralelico de uma teoria axiomática dum mundo quântico.
Logo, o que acharem como 'erro ortográfico' poderá ser apenas um desvairo ou devaneio ensaístico de um louco a brincar com as palavras, em fórmulas virtuais, de forma virtuosa formando frases aleatórias sem sentido num mundo antagonista de chaos organizado, em que o céu existe para espelhar o mar.

23 dezembro 2015

Paradigma cronológico


A todos os que insistem em ler o blog ExCaroxo, seja por convite da minha parte, seja por outra razao qualquer, o meu desejo de que passem boas festas cristólicas, em familia ou com quem mais apreciem a companhia.
Ora bem retomemos ao que nos trouxe aqui: o paradigma cronológico que é a passagem de ano segundo o Papa Pio XIII. E o aproveitamento do mesmo para uma tentativa que nao seja vã de parar de consumir heroina todo o santo dia. Ano novo, vida nova! diz-se.. E com isto meter na cabeça de que o cavalo não presta, é caro, não bate, faz mal á saúde em demasiados aspectos, isola-me socialmente desfaz-me economicamente, destroi tudo o que de bom se construiu.
Posto isto, foda-se!
-Paulinho és mais esperto do que isto.. repito-me, repetem-me.
-Mas, estás com bom ar.. Nem pareces tóxicodependentecaroxodrogadoheroinomano..
-Tento cuidar de minha imagem, tento nao descambar ao espelho de manhã: roupa lavada e dentes relativamente sãos, para além da ocupação que tenho de arrumador de carros e tentar fazer daquilo a arte mais nobre da area comercial, embora haja quem confunda com caridade a dinamica da lei da procura e oferta assente numa pequena burla ao estado e na comodidade dos condutores automobilizados, que desejam estacionar os veiculos o mais próximo d seu destino, possivel.
Em suma, aproveitar o ano novo para aumentar (no meu caso quase duplicar a dose) de metadona, e com isto e usando termos médicos, ocupar os receptores neurologicos com um opiaceo seguro e certo, renegando á droga de rua cuja composição, sabe la dEUS o que andei eu a fumar.
Passos tomados entretanto;
o rasgar a folha com os contactos de 12! sim 12 dealers de Évora que todo o prazer tinham bem ter como cliente uma pessoa como eu a gastar rios de dinheiro em murraça ao qual chamam cavaloescuraheroinabea;
O desfazer me de tudo o que me possa facilitar o processo de fumo objectos tais como: folha de aluminio, cadernos e livros com folhas de aluminio soltas la dentro e com páginas sujas de isqueiro, canetas, lapis e esferógraficas que facilitam o fazer o tubo perfeito..
E pouco mais poderei fazer materialmente, dado que isqueiros, tesouras e corta unhas e outros que tal usados no dia a dia, mas que irreverssivelmente ficaram ligados ao processo de consumo.
Finalmente o quebrar de rotinas e ocupaçao dos tempos mortos usados para me drogar, usando como exemplo o tabaco e a questao dos 8 minutos utilizados para fumar o cigarrinho, e a sua alternativa..Neste caso as horas passadas a ver a bolha na prata para cima e para baixo e a cabeça a encher devagarinho.. blábláblá.
E por fim, o fim da sinusoide emocional, pois que a fragilidade vem aí tal comboio a chegar á estação.


05 novembro 2015

Hoje



Rosto fechado, amiúde.
A culpa própria de quem carrega a sua cruz.
A alma, essa queimadura do corpo estragado, sofre. Quais 4 nobres verdades do dharma.
As alegrias efémeras. Nada é permanente.
Passa uma música triste. Vem ao de cima, tal azeite em água, a melancolia inerente a esta condição.
Dás mais um bafo, esfumam-se sentidos e sentimentos. Abate.
Que poesia esta que não rima. Cona da prima/heroína.
Coração/paixão.
Amor/calor/dor.
Futuro/duro.
Mim/assim/fim.

26 outubro 2015

Sociologia Etimologica

Desvirtuando Shakespeare, ser ou não ser.. Carocho, eis a questão!
Existem muitos termos para definir o toxicodependente, depende sempre de quem emite ou de quem acolhe, do calao, gíria, ou jargão, ou das circunstâncias. Podendo ser usado como doente a drogado. Eu pessoalmente gosto de usar o termo filado metáfora de agarrado.
Há idem quem abuse do escárnio para omitir o senso de inferioridade em relação a um indivíduo que tenha questões  com heroína. Abusando neste caso de termos pejorativos para se referir aos demais, como carocho ou sei lá eu..
É o chico-espertismo no seu melhor, chavalos novinhos com a mania de serem homens, dado que já são pais, não por opção, mas por burrice ejaculatoria, que passam o dia a fumar ganzas e que acham que drogados são os outros.
Por todos os lados sinto a discriminação de ser tóxicodependente, até nos locais mais inesperados como hospitais. Médicos, e todo um staff que por lá labora, seguranças inclusive, tem a mania de que ser agarrado é ser menor. Logo o trato é outro, a partir do momento que damos a indicação de que tomamos metadona, pelas mais diversas razões, sente se no ar a desconfiança tal velhota a guardar a mala tiracolo com ambas as mãos e dentes..
Enfim, para mim que já vivi de cristas no cabelo com um palmo de altura, já me habituei e caguei para os olhares reprovadores de quem acha que seus peidos são santos e que cheiram a arco-iris ao contrário dos outros que são Drogados.. E que à partida está demasiado perto de nós, e que nos vai roubar. Drogado=ladrão!! Por isso Cuidado!

01 outubro 2015

CAT's ou CRI's em Portugal



Lista de CAT's (acrónimo de Centro de Apoio ao Tóxico-dependente) a nível nacional.
Também denominados CRI 
( acrónimo de Centro de Respostas Integradas)



Nota: lista está desactualissima, dado que o CAT em Évora situa se na Rua Gil do Monte no Bairro das Corunheiras.


20 setembro 2015

Métodos.. ou COMO FUMAR HEROINA

Bom dia, bom domingo e fim de semana.
A minha grande questão de hoje é como drogar cavalo?
Do meu conhecimento existem 3 formas: fumo, snife, e injecção. A minha predileção se assim se pode chamar é o fumo através do que os leigos chamam de chinesa. Com folha de alumínio, estanhar a dita com isqueiro, enrolar o tubo de modo a que não haja fugas e que se possam aproveitar os espojos.
Através de cheiro, a demanda é igual a como se faz com a coca, (algo se só vi uma pessoa a fazer, mas que infelizmente já não se encontra no mundo dos vivos). Um tubo, que pode ser uma nota ou qualquer outra matéria prima desde que enrolado o suficiente para caber na narina, fazer linhas numa superfície lisa, e, aspirar.
E por fim injectar, algo que as fobias me impedem de fazer, mas a curiosidade acabará por matar o gato.. Em breve farei um vídeo demonstrativo e espero que elucidativo o suficiente, para que as dúvidas se dissipem ao que a este processo diz respeito. Pois que injectar requer o domínio de aspectos de química e enfermagem até!

17 setembro 2015

Arrumador

Estávamos em Novembro do ano 2014, numa audiência em tribunal para decisão dos poderes paternais e quantificação da pensão de alimentos a atribuir a quem de direito. O timing não poderia ser melhor dado uma breve passagem de uma semana em regime de part-time pela telepizza cujo ordenado auferido como pizzeiro foi de 5.18€!! (descontando a farda entretanto entregue) decidi enveredar pelo ofício de arrumador de carros, nos estacionamentos junto aos hospitais.
Um camarada de fumo, meu ex companheiro de peripécias no mundo da sucata, lançou-me o desafio de com ele ir para o parque vender senhas.
Passo a explicar o funcionamento do processo; para validar o estacionamento os condutores tiram, numa máquina própria para o efeito, as senhas que lhes permite parquear até as 19h do dia pelo valor fixo de 1€, sendo que 90% das pessoas se deslocam aquele parque junto ao hospital para se dirigem ao mesmo, seja para consultas médicas ou visitas a doentes são sempre estadias breves. À saída os condutores dão nos as senhas e nós revendemos las. 
Processo simples? Aparentemente.. depende de uma série de factores alheios à nossa pessoa e acção.
A susceptibilidade própria de quem se dirige a esses estabelecimentos é deveras melindrosa, e peculiar. Os eborigenes, á excepção dos mais preguiçosos raramente desejam pagar 1euro, por minutos de estacionamento e por essa razão deslocam se a locais de estacionamento gratuito não muito distantes. Quem vem de fora e sao muitos, dado que o hospital é distrital. E estranham a forma como sao abordados á chegada e saída do parque, mas depressa se habituam e colaboram (ou nao)..
O parque tem 86 lugares, 3 para deficientes, gravidas e acompanhantes, 2 para carros eléctricos.



A vergonha inerente de ser rotulado de arrumador de carros, existe. A primeira senha que vendi foi a uma ex-namorada. Costumo dizer que estou ali para mudar o paradigma do rotulo postulado ao arrumador de carros. Que é uma troca comercial e não caridade, embora segundo a policia seja considerado crime de burla ao estado, (á camara municipal gestora do parque, atraves do S.I.T.E) e que quem conosco colabora seja por nós persuadido a cometer a burla.
Nós os arrumadores trabalhamos por turnos pré designados, numa especie de chaos organizado. (continua)




14 setembro 2015

Respigador

Aquando de uma estadia em Setúbal, em casa de famíliares, aprendi a rentabilidade de reciclar metais não preciosos, dito sucata, como meio de sustentar o vício heroínico. Muitos dos truques e meios para obtenção de cobre, latão, alumínio, e até ferro. Noites passadas em claro, em prédios devolutos, fábricas abandonadas, ou armazéns esquecidos que de outra forma nunca saberia da sua existência ou conteúdo.

Trouxe esse meio de sustentabilidade para Évora, fiz do centro histórico o meu playground..
No início dos anos 80, todo centro histórico estava ocupado, seriam cerca de 18 mil habitantes, neste momento, 30 anos depois, cerca de 5000. O que deu azo a dezennas e centenas de casas vadias, despreocupadas, abandonadas. Esquentadores, circuitos eléctricos completos prontos a serem roubados, a serem reciclados em sucata, por sua vez transformado em dinheiro, por sua vez transformada em droga, finalmente metamorfoseada em mim. Posso afirmar peremptoriamente que fui um dos pioneiros desta nova geração, ao que a sucatear a cidade diz respeito.
Milhares de quilómetros com metal às costas. Tudo por um bafo.
Encontrar forças onde não imaginaría encontrar.
Já dizia a música do Halloween "dar o rabo pra comprar cavalo".

Ainda assim, tentava agir com alguma ética e senso karmico, tentar prejudicar o mínimo possivel e tentar furtar de quem muito tivesse, uma espécie de Robin dos Bosques egoísta.
Por outro lado havia a questão da adrenalina (e o eterno retorno aos sufixos -ina), dum 'pente' bem sucedido.
A título de exemplo: o estar numa habitação devoluta há 20 anos, saber de memória que foi infantário, uma das divisões é uma capela, está escuro breu, sujo de pó e teias de arranha. Não estás só.. pela janela saiem 3 pombos assustados com a tua presença.
Sobre aventuras de respigação de sucata dava para escrever um blog aparte do ExCaroxo.

13 setembro 2015

REDUNDÂNCIAS


O blog ExCaroxo retorna.
A heroína torna se parte integrante dos dias que correm.
Há 8 anos que me assumi na figura sóciopata, com a qual agora me acomodei. Eu sou drogado, sempre fui, dependente de substâncias psicotrópicas, sou.
A vergonha, sublima se. Esvai se como o fumo de um bafo. Exorcisam se eis demónios pela escrita "blógica". Leiam me. Droguem se. Mas nunca, NUNCA se deixem agarrar.