14 setembro 2015

Respigador

Aquando de uma estadia em Setúbal, em casa de famíliares, aprendi a rentabilidade de reciclar metais não preciosos, dito sucata, como meio de sustentar o vício heroínico. Muitos dos truques e meios para obtenção de cobre, latão, alumínio, e até ferro. Noites passadas em claro, em prédios devolutos, fábricas abandonadas, ou armazéns esquecidos que de outra forma nunca saberia da sua existência ou conteúdo.

Trouxe esse meio de sustentabilidade para Évora, fiz do centro histórico o meu playground..
No início dos anos 80, todo centro histórico estava ocupado, seriam cerca de 18 mil habitantes, neste momento, 30 anos depois, cerca de 5000. O que deu azo a dezennas e centenas de casas vadias, despreocupadas, abandonadas. Esquentadores, circuitos eléctricos completos prontos a serem roubados, a serem reciclados em sucata, por sua vez transformado em dinheiro, por sua vez transformada em droga, finalmente metamorfoseada em mim. Posso afirmar peremptoriamente que fui um dos pioneiros desta nova geração, ao que a sucatear a cidade diz respeito.
Milhares de quilómetros com metal às costas. Tudo por um bafo.
Encontrar forças onde não imaginaría encontrar.
Já dizia a música do Halloween "dar o rabo pra comprar cavalo".

Ainda assim, tentava agir com alguma ética e senso karmico, tentar prejudicar o mínimo possivel e tentar furtar de quem muito tivesse, uma espécie de Robin dos Bosques egoísta.
Por outro lado havia a questão da adrenalina (e o eterno retorno aos sufixos -ina), dum 'pente' bem sucedido.
A título de exemplo: o estar numa habitação devoluta há 20 anos, saber de memória que foi infantário, uma das divisões é uma capela, está escuro breu, sujo de pó e teias de arranha. Não estás só.. pela janela saiem 3 pombos assustados com a tua presença.
Sobre aventuras de respigação de sucata dava para escrever um blog aparte do ExCaroxo.

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