18 agosto 2016

Fuga

Não corro por campos de milho, porque as folhas cortam. Vadio no mato, renascido das cinzas esquecidas, as árvores são novas e as outras tem cicatrizes do pânico arbóreo. Aqui ninguém passa há muito tempo, as teias de aranha na cara são prova de passos virgens, e quando não mais consigo subir, paro, reflito, e olho, à volta e para dentro.
É uma festa de aniversário tripla, vieram de longe para a ocasião, estamos juntos, e eu, como sempre só. O poliglotismo revela origens díspares.
Ao terceiro tempo e depois de alguma contemplação da vista e do mar ao longe decido descer montanha abaixo, pela aldeia de ares medievais, marcando pontos de referência aqui e acolá, pensando no retorno por vielas de calhaus tortos e muros de granitos empilhados, fontes de água de torneira, e vivendas amplas cujas considerações internas ficam ao sabor da criatividade dos demais que as habitam, normalmente emigrantes na França.
Chegado à praia, (passando ao lado dos campos de milho que não se passam através, pois que as folhas cortam como papel), repleta de arestas rochosas com lapas, caranguejos escondidos, algas e marés.
Se no mato da montanha fui obrigado ao voltar para trás, pelo mesmo caminho pela falta de opção, aqui a história é diferente.. da casa vejo o mar, da praia presumo a direção.
Perdido na encruzilhada da aldeia de Areosa, subo pela encosta de casas recuperadas pelos emigrantes e nos caminhos tortos amuradas por gente antiga.
Finalmente encontrado no alto mais vertiginoso, o lar.

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